João de Lemos Seixas Castelo Branco, (1819-1890)
Jornalista, poeta e dramaturgo português.
Que dizem?
Uns olhos, olhos que falam,
Que de alma as fibras abalam,
Como eu os vi, ninguem viu;
São negros, negros, tão puros
Luzindo, apesar de escuros,
Qual nunca um astro luziu.
Que falam, que falam, sei-o,
Sei-o muito, exp'rimentei-o
Dentro do meu coração;
Cada olhar era um volume,
De que as letras eram lume,
Eram brazas de vulcão.
Eu soletrei-as, eu li-as,
Dentro do meu coração;
Cada olhar era um volume,
De que as letras eram lume,
Eram brazas de vulcão.
Eu soletrei-as, eu li-as,
E na memoria esculpi-as
Uma por uma; que fiz?
Soube apenas que falavam,
Que luziam, que queimavam,
Mas cada olhar o que diz?
Olham, falam esses olhos,
Uma por uma; que fiz?
Soube apenas que falavam,
Que luziam, que queimavam,
Mas cada olhar o que diz?
Olham, falam esses olhos,
Cortam d'um golpe os abrolhos
Da vida, num só olhar;
Falam, falam, mas que dizem?
Falam d'amor, ou maldizem
Quem d'amor lhes quer falar?
E lindos, lindos são eles,
Da vida, num só olhar;
Falam, falam, mas que dizem?
Falam d'amor, ou maldizem
Quem d'amor lhes quer falar?
E lindos, lindos são eles,
Qual nunca o pincel d'Apeles
Soube pintar, não pintou;
Não tinha tão negras cores,
Nem tintas com tais fulgores,
Onde as achar? não achou.
Soube pintar, não pintou;
Não tinha tão negras cores,
Nem tintas com tais fulgores,
Onde as achar? não achou.
São lindos, quais nunca teve
Sonhada virgem de neve
Em sonhos de trovador;
Nem as filhas de Mafoma,
Nem filhas de Grecia, ou Roma,
Nem um anjo do Senhor!
Lindos, lindos, transparentes
Em sonhos de trovador;
Nem as filhas de Mafoma,
Nem filhas de Grecia, ou Roma,
Nem um anjo do Senhor!
Lindos, lindos, transparentes
Como o cristal das torrentes,
Como o véu d'um qerubim;
Transparentes, mas escuros
Como a noite, mas tão puros
Como o céu... vi-os assim.
Vi, mas que importa? falavam,
Como o véu d'um qerubim;
Transparentes, mas escuros
Como a noite, mas tão puros
Como o céu... vi-os assim.
Vi, mas que importa? falavam,
Eram, lindos, e brilhavam
C´um meigo brilho só seu;
Falavam, mas que diziam?
Brilhavam, por que luziam?
Por que luz o astro no céu?
Falam, falam num lampejo;
C´um meigo brilho só seu;
Falavam, mas que diziam?
Brilhavam, por que luziam?
Por que luz o astro no céu?
Falam, falam num lampejo;
Mas entendem meu desejo,
Respondem ao meu olhar?
Ou falam só, como falla
Onda insensivel, que estala
N'um penedo á beira-mar?
Respondem ao meu olhar?
Ou falam só, como falla
Onda insensivel, que estala
N'um penedo á beira-mar?
Falam so por que é seu fado,
Como o d'um céu estrelado
E brilhar na criação?
Ou falam por que se acendem.
Por que os meus olhos entendem,
E respondem sim, ou não?
Se eles não falam sem tino,
E brilhar na criação?
Ou falam por que se acendem.
Por que os meus olhos entendem,
E respondem sim, ou não?
Se eles não falam sem tino,
Como inocente menino
Sem pensamento nem fim,
Quando c´os meus os persigo,
Respondem ao que eu lhes digo,
Dizem não, ou dizem sim?
Sem pensamento nem fim,
Quando c´os meus os persigo,
Respondem ao que eu lhes digo,
Dizem não, ou dizem sim?
3 comentários:
Não conhecia e adorei o poema.
beijinhos e bom fim de semana
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