domingo, 19 de junho de 2011

The special one (4º poema)

Aqui fica mais um poema do meu livro. Desta vez escolhi Bocage. É considerado como um dos nossos melhores poetas, e depois de Camões o mais popular e celebrado de todos. Apesar das numerosas biografias publicadas após a sua morte, boa parte da sua vida permanece um mistério. A solidão, o sofrimento, o amor-ciúme, o belo-horrível, a morte, são alguns dos temas que trata, de acordo com o próprio infortúnio da sua vida. Espero que gostem.


“Já Bocage não sou!…
À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
(…)”


Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage Setúbal - Poeta
1765//1805

Auto-retrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage

Sem comentários: